Estádios | Estádio do Campo Grande


Estádio do Campo Grande

1941/42 e 1970/71



FICHA TÉCNICA

NOME:
Campo Grande
LOCALIZAÇÃO:
No topo norte do Campo 28 de Maio (Campo Grande, 412), junto à Estrada de Telheiras e a sul
do Estádio do Lumiar
DATAS DE POSSE:
De 1940 a 1972
SITUAÇÃO ATUAL:
Parque de Estacionamento, a norte da Estação de Metropolitano do Campo Grande
TIPO DE PROPRIEDADE:
Terreno cedido pela CML pela renda mensal de 550$00 (1940/41), até 1 300$00 (entre 1944 e 1971)
Custos do arranjo do piso e construção de bancadas, entre 1940 e 1944:1 227 410$70
DATA DE INAUGURAÇÃO E 1º JOGO:
05/10/1941, jogo particular com o Sporting (V 3-2)
DATA DO ÚLTIMO JOGO:
18/04/1954, jogo particular com o Atlético CP
OUTRAS INSTALAÇÕES:
Campo de Basquetebol Pista de Atletismo
MOTIVO DO ABANDONO:
Degradação, falta de condições para os associados e espaço exíguo para o crescimento desportivo
e associativo do clube



No Campo Grande, espaço desportivo muito antigo em Lisboa, teve o Benfica grandes tardes de glória.

Foi neste campo que fizeram as suas festas de despedida grande parte dos futebolistas que reforçaram a mística do Benfica nos anos 30 e 40. Em finais de 1939, o presidente da Direção foi chamado ao Ministério das Obras Públicas, sendo informado pelo Ministro Eng.º Duarte Pacheco que os três clubes de Lisboa - Benfica, Belenenses e Sporting - teriam de abandonar os seus campos, para se instalarem no Parque Florestal de Monsanto, onde a Câmara Municipal de Lisboa (CML) faria construir três estádios.

Acrescentou o ministro que o Benfica seria o primeiro clube atingido, devido às obras da autoestrada.

Entretanto, em contacto com a CML, a Direção do Benfica foi informada de que o Clube ficaria provisoriamente instalado no Campo Grande, cedido pela renda mensal de 600$00 (valor que o Benfica conseguiria reduzir para 550$00). Como era habitual, o Benfica dispunha de pouco dinheiro para realizar as obras de adaptação dum espaço desportivo que há muito estava desativado e que nunca chegara a ter grandes condições. Depois de lutar por uma indemnização justa, em face da sua saída involuntária das Amoreiras, a direção do Benfica conseguiu que esta passasse de 600 para 800 contos (note-se que o Estádio das Amoreiras representou 2 000 contos de investimento em 15 anos de utilização).

A CML comprometeu-se a pagar 400 contos no ato da escritura e o restante o mais breve possível, mas nunca excedendo o ano de 1940. A edilidade comprometeu-se, ainda, a dar prioridade ao Benfica na escolha do campo no Parque de Monsanto. O Benfica recebeu 800 contos de indemnização para abandonar o Estádio das Amoreiras, mas teve de pagar dívidas (ainda referentes aos empréstimos para a sua construção), ficando apenas com 500. Não se podia, pois, pensar em grandes obras, mas sim em dotar o estádio de condições aceitáveis. Sem muito terreno disponível e sem recursos amplos não se podia pensar num projeto grandioso. Havia que conciliar a necessidade de remodelação do espaço com o dinheiro disponível.


O INÍCIO DAS OBRAS

O Campo Grande encontrava-se desativado desde 1937, após ter sido abandonado pelo Sporting, que alugou nesse ano o estádio do Lumiar (hoje Estádio José Alvalade, submetido a grandes obras em 1946 e em 1955).

Em 1913, José de Alvalade, em litígio com o Sporting, do qual se viria a afastar em 1916, decide ampliar o "Stadium de Lisboa" (seria inaugurado a 28/06/1914), fazendo demolir a tribuna do campo do Sporting (situado mais a norte e que nesta época se chamava Sítio das Mouras, mas que quando foi reativado, nos anos 30, se passou a chamar Lumiar-A) para retirar materiais para a nova construção, inutilizando o campo. Este ato não agradou aos dirigentes do clube leonino, mas como o Sporting não era proprietário do espaço, que pertencia ao Visconde de Alvalade, avô de José de Alvalade, foi obrigado a aceitar a resolução.

A Direção do Sporting decidiu, então, entrar em conversações com o senhorio do espaço onde se situava o campo do Lisboa FC, cobrindo a proposta deste clube. O Sporting mudou-se, assim, para o Campo Grande, fazendo obras de melhoramento no local e conduzindo à extinção o Lisboa FC, que, sem campo, se viu obrigado a juntar-se ao SC Império (proprietário do campo de Palhavã), formando-se, então, o Império Lisboa Clube. Sob a tutela do Sporting, o recinto (inaugurado em 01/04/1917, num jogo com o Benfica que resultou em 0-0) passou a ser conhecido por Campo Grande 412, e, mais tarde, após a Revolução de 28 de maio de 1926, que implantou a Ditadura Militar e depois o Estado Novo, o Campo Grande passou a ser designado de Campo 28 de maio.

O Sporting utilizou este espaço desportivo durante 20 anos. Em 1937 arrendou o Estádio do Lumiar (antigo Stadium de Lisboa), abandonando o Campo Grande. Ou seja, quando o Benfica iniciou as obras de reconstrução do Campo Grande, este estava desativado há 3 anos. Enquanto estas duraram (1940/41), o Clube utilizou três estádios para receber os adversários em jogos do Regional e do Nacional: 1 jogo nas Salésias (Belenenses), 1 jogo no Lumiar-A (Unidos FC) e 13 jogos no Estádio do Lumiar (Sporting CP). Entretanto, O Benfica consegue fazer um "trabalho de formiga", levantando bancadas de madeira em redor do campo - uma obra que chegou a parecer impossível.


CAMPO GRANDE CAUSA ESTUPEFAÇÃO


Em 05/10/1941, quando é inaugurado, o Campo Grande causa estupefação. Como era possível fazer um estádio daqueles num espaço que fora abandonado pelo Sporting por, alegadamente, não possuir condições! Mais: o Campo Grande estava, até, melhor do que o Estádio do Lumiar, para onde se mudara o Sporting, 4 anos antes! No jogo inaugural o Benfica venceu o Sporting, por 3-2. O Clube conseguiu ainda alugar um espaço adjacente, inaugurando, a 01/12/1946, uma Pista de Atletismo em cinza. O complexo foi, também, dotado de um Campo de Basquetebol.

Dos 2 hectares disponíveis em 1941, o Benfica passou a dispor, em 1946, de 5 hectares alugados. Mas o espetro da precariedade pairou sempre sobre o Campo Grande, alcunhado de "Estância de Madeira". Alguns adeptos queixavam-se de que o estádio gerava custos dispendiosos, obrigando o Clube a investimentos avultados (1 227 410$70 entre 1940 e 1944) quando o terreno nem sequer era pertença sua. Em março de 1944, tendo reservado dinheiro para obras de conservação das bancadas, que se encontravam em estado de grande degradação, o Benfica foi informado pela CML que o Município estava a estudar a localização de novos terrenos para instalar o Clube. Foi decidido, então, não se aplicar o dinheiro em obras de conservação do Campo Grande, já que a utilização provisória do mesmo não justificava investimentos.

Após alguma indefinição por parte da CML, que indicava terrenos que não serviam as aspirações do Clube por serem muito caros, de topografia pouco adequada a um campo desportivo ou pela sua pequena dimensão (caso do espaço oferecido na Avenida Alferes Malheiro - hoje Avenida do Brasil -, mais tarde ocupado pelo LNEC). Em 1946, o Benfica conseguiu uma proposta para regressar à área de Benfica. Em causa estavam uns terrenos perto da Quinta da Luz. Mas o Clube havia de manter-se no Campo Grande por mais alguns anos, fazendo pequenas (mas, por vezes, dispendiosas) obras de conservação. Finalmente, em 18/04/1954, a categoria de honra fez, frente ao Atlético CP, o último jogo no Campo Grande, integrado na festa "Pró-Estádio", iniciativa que visava obter receitas para o novo parque desportivo (apelidado, nas primeiras épocas, de Estádio de Carnide, antes de adotar o predicativo da Luz).

Não faltaram, também, grandes goleadas: 12-2 ao FC Porto (07/02/1943), 7-2 ao Sporting (28/04/1946) 13-1 à Sanjoanense (27/04/1947) - ainda hoje o melhor resultado no Nacional - e 9-0 ao V. Setúbal (07/02/1954), todas elas a contar para Campeonato Nacional da I Divisão. Em bom número se contam, igualmente, as festas de despedida: Valadas (01/12/44), Albino (13/05/45), Gaspar Pinto (08/09/46), Martins (31/08/47), Espírito Santo (08/12/1949), Julinho (10/06/1953) e Moreira (08/12/1953).


A TAÇA LATINA

E foi durante a permanência no Campo Grande que o Benfica conquistou, no Estádio Nacional (1949/50), um dos troféus mais emblemáticos da sua história: a Taça Latina. Para além deste, foram vários os êxitos alcançados neste período, com destaque para 4 Campeonatos Nacionais e 6 Taças de Portugal. No Campo Grande, o Benfica concretizou, também, outros registos espantosos, entre os quais o de 21 vitórias consecutivas e o de 47 jogos seguidos sem perder (apenas 2 empates). Após o futebol de honra ter abandonado as instalações, o Benfica continuou, ainda assim, a utilizar o espaço para treinos, jogos de outras categorias e de outras modalidades, deixando apenas para 1971 - após 30 anos de utilização (para jogos oficiais da categoria de Honra apenas durante 13 temporadas) - o adeus definitivo ao Campo Grande.

Determinante para o abandono definitivo foi a justificação camarária de que seria necessário abrir uma avenida de acesso ao campo do Sporting. Pareceu, afinal, tratar-se de uma manobra engenhosa, já que o velho Campo Grande viria a servir, durante 26 anos (!), como campo de jogos de futebol do clube de Alvalade. Em cima do antigo peão foi construído um edifício, designado de Pavilhão. Atualmente, o espaço encontra-se ocupado por um parque de estacionamento, a norte da Estação do Campo Grande, da rede do Metropolitano de Lisboa.

O Campo Grande ficou na história como um dos espaços desportivos mais antigo da Cidade, utilizado quase ininterruptamente entre 1912 e 1997 (pelo Benfica, entre 1940 e 1971). Aí conheceu o Benfica grandes tardes de glória, entre 1941 e 1954, numa altura em que alguns dos jogadores se transportavam no elétrico que ligava os Restauradores ao Lumiar, em dias de jogos e de multidões. Seguindo entre os espetadores, chegavam ao campo atrasados devido ao excesso de trânsito, acabando por ter de correr a caminho dos balneários!


FOI DURANTE A PERMANÊNCIA NO CAMPO GRANDE QUE O BENFICA CONQUISTOU, NO ESTÁDIO NACIONAL (1949/50), UM DOS TROFÉUS MAIS EMBLEMÁTICOS DA SUA HISTÓRIA: A TAÇA LATINA


retirado de SLBenfica.pt












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